Panorama -
continuação

Existe ainda muita controvérsia quanto à quantidade de
GEE que é trocada entre o sistema Atmosfera-Terra,
devida, em suma, às incertezas de natureza metodológica
e do conhecimento incompleto sobre o acoplamento entre
diferentes componentes dos sistemas. Estudos realizados
na última década têm demonstrado que a cadeia alimentar
de muitos ambientes aquáticos não é sustentada pelos
organismos produtores (fitoplâncton), mas pelos
organismos decompositores (bactérias) e pela entrada de
matéria orgânica proveniente da bacia de drenagem
(material alóctone). Considerando tal premissa,
conclui-se que a fotossíntese não é a fonte principal de
carbono desses ambientes, mas sim o ambiente
circundante. E se a produção primária, baseada na
fotossíntese, é menor que a atividade respiratória das
bactérias, então tais sistemas não contribuem para a
fixação do carbono atmosférico. Pelo contrário,
tornam-se fontes emissoras de gás carbônico. Essa
abordagem do funcionamento dos sistemas aquáticos é
relativamente nova e muitos estudos e equipamentos ainda
estão sendo desenvolvidos para a avaliação das taxas de
respiração bacteriana em comparação com a produção
fotossintética. No rastro desse novo enfoque limnológico,
passou-se a questionar a geração de energia hidrelétrica
como fonte "limpa", já que os reservatórios incorporam
grandes quantidades da biomassa vegetal que cobria a
bacia de acumulação. Cogitou-se que a decomposição dessa
imensa fonte de carbono seria responsável por emissões
de gases de efeito estufa em níveis equivalentes aos de
termelétricas de mesma potência.
De fato, pesquisas recentes sobre a produção e emissão
de GEE em reservatórios têm demonstrado que estes
sistemas apresentam emissões consideráveis,
particularmente de metano (CH4), gás
carbônico (CO2) e óxido nitroso (N2O).
Neste sentido, o Brasil vem realizando inventários
nacionais sobre as emissões de GEE (www.mct.gov.br). Com
relação à geração hidrelétrica, inicialmente, foram
consideradas apenas as emissões de CH4 dos
reservatórios, as quais estão vinculadas ao
desflorestamento e mudanças no uso da terra. FURNAS, por
meio de contrato com a COPPE, contribuiu de maneira
significativa para este inventário e a compreensão das
emissões em reservatórios, realizando medições no
reservatório de Serra da Mesa ainda na fase de
enchimento. Neste estudo, foram medidas não só as
emissões de CH4, como também as emissões de
gás carbônico dissolvido, incluindo a medição da
concentração de gases dissolvidos em diferentes
profundidades. Os resultados confirmaram que as emissões
de gás carbônico eram cerca de dez vezes superior ao das
emissões de metano, e que grandes concentrações de ambos
os gases estavam retidas no hipolímnio, como produto da
decomposição anaeróbia da vegetação alagada. Outra
contribuição importante deste trabalho foi a utilização
da curva cota-área do reservatório para o cálculo da
emissão de metano, já que foi observado que não se
registravam emissões em profundidades superiores a 40
metros. Desta forma os cálculos ficaram mais precisos
que a extrapolação pura e simples para toda a área do
espelho d’água.
Além da COPPE, outras instituições brasileiras de
pesquisa têm se direcionado ao estudo das emissões de
GEE por reservatórios, a destacar o INPE-CENA (Lima &
Novo, 1999; Lima, 2002) e o INPA (Fearnside, 2002).
Devido à discrepância entre os valores médios de fluxos
que têm sido obtidos pelas diferentes instituições,
resultante, em suma, da diversidade metodológica de
coleta dos dados e da natureza muitas vezes não linear
dos processos de emissão, percebe-se a necessidade da
realização de estudos que propiciem o aperfeiçoamento e
padronização de métodos. O estado-da-arte indica que, em
casos onde a geração hidrelétrica é inferior à 0,1 W por
metro quadrado de área de reservatório, existe a
possibilidade das emissões de GEE serem superiores
àquelas que seriam originadas de uma termelétrica
gerando uma quantidade de energia equivalente (Rosa &
dos Santos, 2000).
A Comissão Mundial sobre Barragens (www.dams.org) tem
ressaltado que apesar da constatação da emissão de GEE,
é preciso considerar o modo com que o sistema anterior à
construção da barragem se comportava quanto às trocas de
GHG com a atmosfera. Sendo assim, torna-se necessário o
cálculo de um balanço de quanto o reservatório irá
emitir no seu curso de vida, e quanto o sistema anterior
emitiria naturalmente neste mesmo período. Neste
sentido, o presente projeto tem por principais questões
a serem investigadas:
1 – Qual o balanço das emissões de GEE por
reservatórios?
2 – Energia hidrelétrica contribui para o incremento do
efeito estufa?
3 – Quais as diferenças nos métodos de estimativa de
fluxo de GEE?
4 – Até que ponto dependemos da resolução temporal e
espacial dos processos para o desenvolvimento de modelos
adequados de compreensão e previsão?
O projeto envolverá o Departamento de Meio Ambiente (DMA.T)
de FURNAS Centrais Elétricas S.A, o Instituto Alberto
Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia –
COPPE/UFRJ, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
– INPE, a Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, o
Instituto Internacional de Ecologia – IEE e um consultor
estrangeiro, especialista em avaliar emissões originadas
do sedimento, com experiência no Chile, Europa, África,
Nova Zelândia, Canadá e Japão.
Esse intercâmbio permitirá a transferência da tecnologia
de medição das emissões provenientes do sedimento e o
desenvolvimento de modelos para a avaliação das emissões
de gases em reservatórios construídos em ambientes de
Cerrado. Cada especialista tratará de desenvolver
aspectos relacionados ao ciclo do Carbono e à
quantificação das emissões pelos reservatórios.
Este projeto está dimensionado para ser desenvolvido por
seis anos, período em que serão realizadas medições em
todos os reservatórios da empresa. Os estudos serão
desenvolvidos em dois reservatórios por ano de forma a
que todos sejam incluídos no projeto, na ordem:
1o ano: UHE Serra da Mesa e APM Manso;
2o ano: UHE Itumbiara e UHE Corumbá;
3o ano: UHE Marimbondo e UHE Porto Colômbia;
4o ano: UHE L.C.B. de Carvalho e UHE
Mascarenhas de Morais; UHE Furnas;
5o ano: UHE Funil e APM Manso;
6o ano : desenvolvimento de modelos e
elaboração de relatório final.
A emissões de carbono pelo APM Manso deverão ser
remensuradas no quinto ano para que seja avaliado o
efeito do tempo sobre as taxas obtidas naquele
reservatório ainda em fase de estabilização.
Serão elaborados os seguintes documentos:
• relatórios de andamento, apresentando os resultados
obtidos nas duas primeiras viagens de campo de cada
grupo de reservatórios, a serem apresentados nos meses
de julho e outubro;
• relatórios anuais concluindo sobre as emissões e os
fatores predominantes do ciclo de carbono de cada
reservatório; a serem apresentados no mês de março de
cada ano;
• relatório síntese apresentando as conclusões gerais do
projeto: o balanço do carbono nos reservatórios de
FURNAS Centrais Elétricas S.A,
O diagrama abaixo sintetiza o conjunto de atividades a
serem desenvolvidas em cada reservatório.